quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Desta, escrevo para entender.

Peço que se um dia eu me esquecer de pegar minhas chaves da porta, por favor, não me chame de idoso. Entristeço quando não me acham válido. Inválido. Lírio-esquálido.
Prefiro as tardes em que o sol meio que se perde. Mas não chove. São 17h47 e o jornal não está tão perto de começar. ''Mas eu não gosto de televisão. Gosto?''
Ah, se eu acordasse. Convivo com minhas flores de cactus que só florescem uma vez no ano. Que são aguardadas como um falecido é aguardado do outro lado. Melhor. Lá. Vê como esqueço rápido. Esqueço pra não lembrar de enrolar um fio de barbante em cada parte do meu corpo e apreciar a sereia postada. Não, a sereia não, mas um chafariz de uma casa com jardins que são maiores que jardins secretos. E meu bem, se você quiser vir, que venha em pleno janeiro. Que fique até fevereiro, para a vizinhança que não descansa os olhos, testemunhar. E ver que não sou só lamúrias. Só um pedaço que a vida não levou. Que sou algo mais. Algo a mais. Algo, que te deixa preocupada durante as manhãs, porque se importa, mas que não volta. E se você voltasse, Mariazinha, como seriam as minhas noites? Me prepararias a janta e me porias pra dormir? No fundo estou uma criança perdida. Sou eu mesmo essa criança. Sou seus ossos e músculos, neurônios e angústias. Perambulo pela cidade sozinho também. Escrevo nos postes e muros frases de ódio. E ainda espero pelo dia em que eu seja perdoado, esquecido e apagado. Porque quando acaba, não há mais linhas desalinhadas. Não há nada.

E desculpas pela ausência.