terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lady, where has your love gone?

"Não queria que passasse o tempo sem eu ter consciência de estar sendo alguém que eu não sou” Eu te disse.
Lembro de te ver fechar um livro e levantar os olhos para mim.
Estávamos na varanda da casa dos meus pais. Haviam saído. Era um dia daqueles que você reclamava sobre o meu “pensar demais”. Não havia pôr-do-sol. Não havia sol. Havia apenas essas nuvens espessas, esperando o momento certo para descer como chuva e dançar nas janelas e nas ruas.
Você deixou o livro de lado.
É verdade, houve um tempo em que eu sentia que poderia levantar o mundo e continuar deitada com você ao meu lado, assistindo Stich destruir o centro da cidade em um filme que você falava que te fazia lembrar de mim menor.
Eu sabia como era ignorar certas coisas.
Simples assim: Ás vezes era bom ficar desse jeito.
Eu esticava as pernas, até sentir estralar em algumas partes. Deitava-me ao seu lado, esperando você agarrar minha mão e quando você não o fazia, brigava, mas não porque me importava, mas porque gostava de reconciliações.
Era bom parar e então olhar a massa de prédios acumulados mais á frente. Os carros que passavam. As pessoas apressadas sentindo que choveria a qualquer instante. Sentir frio e calor ao mesmo tempo. E ter vergonha quando a claridão do sol estivesse entrando pelas janelas de manhã.
Você parou por um longo tempo. Olhava pra mim, pra varanda, pra mim de novo. E parecia tão calmo.
E então de repente, eu fiquei angustiada.
Eu sabia que depois eu lembraria de você calculando o que responder e pensaria nas relações... Sobre o ser suficiente. E era por isso que eu ficava mais sozinha, pensando que talvez fosse melhor assim do que admitir uma falsa alegria. Era complicado. Ser feliz é complicado. Não adiantava só sorrir ou fingir, sabe? Tudo sempre esteve além disso. As pessoas denunciam farsas. Tudo precisava ser provado, anotado, concretizado.
“Nada importa, contanto que você esteja bem”, você me disse, um pouco antes de eu desistir de ter alguma resposta. “As pessoas necessitam de pequenas felicidades, desses pequenos pedaços de tempo na vida delas para lembrar como é ser alguém menos cético, menos programado. Apenas... Ser feliz, sem saber, entende?”.
E eu concordava. Era verdade que eu queria ir pra cidades serranas beber chá com alguém, mesmo que não gostasse. Ir à praia e saltar as ondas como se fosse Ano Novo. Subir um morro e assistir o coro de pássaros. Essas coisas que significavam pouco, e fazê-las só por querer fazer.
Mas ainda assim, me sentia desnecessária. Um pequeno nó intrometido numa linha.
Desconfortável ou insegura demais. ''Está certo assim?'' '' Deveria pensar assim?''
Eu não te falava isso, por medo de apelar demais sua atenção.
“Lady, where has your love gone?”
Eu pensava no que você dizia, e então você desistia de esperar por alguma reação que demonstrasse alguma coisa da minha parte. Voltava sua atenção pro seu livro. Eu engatinhava até você. Me inclinava para beijar seus lábios. E me enfiava dentro dos seus braços. Pronta pra dizer pra mim e pra você: Quiçá um dia eu seja capaz de entender.

Nenhum comentário: