sexta-feira, 4 de junho de 2010

praia + amanhecer + mistura de todos

Era aquela velha blusa azul. Apertada. E triste, principalmente. O fazia parecer aquelas crianças usando roupa do irmão mais novo. Tinha aquela expressão de estar fingindo desinteresse em qualquer coisa. Mania que havia adquirido com anos de convívio com ela. Nancy, sua irmã mais velha. Ela que havia arranjado pílulas de-já-nem-sei-mais-o-que-lá. Que havia meio que desandado sua vida assim mesmo. Seu nome já era bem sugestivo.
Grande garoto de 19 anos. Meio fodido. Meio acanhado. Meio nada. Eu sabia que ele queria ter algum lugar secreto (mas não tão escondido assim) pra se guardar do mundo, ás vezes, quando este parecia tão hostil. Ou apenas para fumar e conversar com alguém. Essas coisas que nos deixam menos elétricos me parecem apenas uma desculpa pra olhar o céu e a fumaça do ontem. E lembrar desse ontem mesmo, apenas porque essas lembranças vieram de repente. Em que estava numa grama em frente á praia e sorria como não sorria hoje. Quando estava tão alto que a grama lhe subia e via as estrelas triplicarem. Lembrava que segurava a mão de alguém. De alguém pequeno e magricela. Ela o beijava mas não sentia seu corpo. E nem o seu próprio.
Fechava os olhos. Pensava em outros amores. Nos que não duravam, não reclamavam. E principalmente nos que amavam tanto quanto. Não tinha chegado tão longe com nenhuma. Era meio incomodado com isso de mãos dadas. Com isso de mensagens e até mesmo de ter que lembrar. Odiava lembrar. Odiava ter que fazer alguma coisa. Era meio esquecido mesmo. Ou meio avoado, se preferir. Tinha aquela famosa sensação de não pertencer ali. Nunca e nunca. Nunca estava tão bem assim. Acho que foi por isso que quando fui procura-lo, ele sumiu. E nunca mais se ouviu falar.

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